terça-feira, maio 29, 2007

Promessas por cumprir ou a minha opinião sobre a lei do tabaco para Portugal

O que vale é que não são eleitorais. Qual a diferença? É que essas raramente são cumpridas, mesmo! Quanto às outras, ainda existe a esperança.
E porque gosto muito do JMA (temos MESMO de ir para a frente com aquele texto a 4 mãos, amigão!), dedico este post a ele. Contudo, o conteúdo não será muito diferente do comentário que deixei no seu modesto casebre há... quantas semanas, mesmo?

Como é meu apanágio, venho, uma vez mais, opinar sobre assuntos em relação aos quais não possuo todo o conhecimento. Começo a acreditar que é também uma forma de inteligência, já que no fim a coisa até nem sai mal de todo e transmite a ideia de saber bastante sobre o assunto. Provavelmente, são os filtros que terão sido mudados há pouco e ainda funcionam, tendo a capacidade de captar a parte relevante.

Aliás, correcção seja feita: eu não vou opinar sobre a lei do tabaco, mas sobre a opinião do JMA sobre “o direito dos proprietários dos estabelecimentos a decidir o que querem naqueles espaços”. E isso sim, é muito mais à frente (opinar sobre as opiniões, entenda-se).

Eu sou a favor da liberdade de escolha, ou não fosse da geração pós 25 de Abril, que faz parte daquele grupo de gajos que dá certos valores como dados, tipo as liberdades… e essas coisas pelas quais a geração anterior se fartou de lutar…
Mas, a verdade é que nem sempre o que se considera o melhor caminho terá o efeito prático desejado. Vejamos:

Então temos que, à semelhança do que se passa em Itália desde Janeiro de 2005 e em Espanha um ano mais tarde, nós, por aqui, andamos a debater a possível lei do tabaco para o nosso paraíso à beira-mar plantado, vulgo, República das Bananas (please, não confundir com um pequeno arquipélago que teve eleições recentemente e cujo resultado terá, com certeza, surpreendido tudo e todos... ou não!).

Do pouquíssimo que li, verifiquei que é para cortar mesmo! É que não se poderá fumar em quase lado nenhum! Resumindo (retirado daqui): [parte chata, passar à frente]
- “locais onde estejam instalados órgãos de soberania, serviços e organismos da administração pública e pessoas colectivas públicas”
- “locais de trabalho”
- “estabelecimentos onde sejam prestados cuidados de saúde, nomeadamente hospitais, clínicas, centros e casas de saúde, consultórios médicos, postos de socorros, laboratórios, farmácias e locais onde se dispensem medicamentos não sujeitos a receita médica”
- “lares e outras instituições que acolham pessoas idosas ou com deficiência ou incapacidade”
- espaços “destinados a menores de 18 anos, nomeadamente infantários, creches e outros estabelecimentos de assistência infantil, lares de infância e juventude, centros de ocupação de tempos livres, colónias e campos de férias e demais estabelecimentos similares”

Mais ainda:
- “nas salas e recintos de espectáculos e noutros locais destinados à difusão das artes e do espectáculo, incluindo as antecâmaras, acessos e áreas contíguas”

E como se não bastasse...o fumo deverá ser proibido também:
- “nos recintos de diversão e recintos destinados a espectáculos de natureza não artística”
- “nos conjuntos e grandes superfícies comerciais e nos estabelecimentos comerciais de venda ao público”
- “nos estabelecimentos hoteleiros e outros empreendimentos turísticos, onde sejam prestados serviços de alojamento”

Haverão excepções feitas (“pacientes fumadores em hospitais psiquiátricos, serviços, centros de tratamento e reabilitação e unidades de internamento de toxicodependentes e de alcoólicos”, assim como “nos estabelecimentos prisionais, unidades de alojamento, em celas ou camaratas, para reclusos fumadores”), mas, como se vê, pouquinhas pouquinhas. E sim, vou abster-me de tecer comentários sobre esta parte, ainda que os dedos vibrem com a vontade de escrever umas tontices com um mínimo de piada…

E, como se não bastasse, ainda se prevêm multas astronómicas, em comparação com as previstas para o abuso de drogas! Lindo!
[fim da parte chata]

E agora, a fundamentação da minha opinião…
Como tenho a mania de falar por cima, cá vai disto:

Temo que, no caso dos espaços privados, se for dado o poder de escolha do proprietário no que toca a ter o seu espaço como livre de fumo (à semelhança do que se passa em Espanha), o resultado será que, muito provavelmente, na maior parte dos cafés, restaurantes, bares, discotecas e afins a coisa não mude nem uma unha negra! Existe uma infinidade de motivos que podem ilustrar esta opinião. Contudo, para mim, a realidade prova mais do que debitar teorias mais ou menos patetas (ainda que vontade não falte e a imaginação tenda a acompanhar). E a realidade é esta:

- Passei o ano de 2005 em Itália sem poder fumar em espaços públicos. Por muito estranho que nos possa parecer, passei noites em discotecas em que tinha de ir à porta para tirar umas passas. Fumei muito menos, cheguei a casa com a roupa a cheirar… olha, não tresandava a tabaco! E note-se que eu era gaja para fumar bastante! (Obviamente, estou a resumir um pouco, já que existe a possibilidade de haverem espaços para fumadores, mas os critérios são tão exigentes e as licenças tão caras, que a perspectiva desencoraja quase por completo os donos dos estabelecimentos em avançarem com essa possibilidade).

- Passei 5 dias em Madrid no fim de Abril e em TODOS os tascos onde parei (mas todinhos mesmo!, e não os escolhi, fui lá parar por acaso, porque outro alguém escolheu) permitiam o fumo! Porquê? Porque os donos dos espaços podiam optar. Invariavelmente, escolheram que o seu espaço fosse “poluído”.

A moral da história é: se dermos aos proprietários a liberdade de escolha, muito dificilmente os mesmos irão tornar o seu café/restaurante/bar/discoteca um “espaço verde”.
Porque a verdade é que estamos todos habituados a conviver com o fumo. E, quer queiramos quer não, parece estranho, de repente, não se poder fumar no café da esquina, onde vamos tomar o cimbalino da hora de almoço. Porque os fumadores deixariam de lá ir, mas os não-fumadores não passariam a ir lá mais…


Em conclusão: temos uma falha de mercado que, pela escolha economicamente racional (tendo em vista o lucro), nos mantém na situação de partida. Nada muda!
Logo, se o objectivo é proteger os não-fumadores e reduzir o consumo de tabaco da população, não se deve deixar ao critério dos proprietários.

Atenção: não fumo há quase um mês, mas não é por isso que a minha opinião é esta. Na verdade, ainda enquanto fumava um maço ou mais por dia, sempre fui a favor de espaços para não-fumadores ou locais de completa proibição em que o pessoal vem matar o vício cá fora. (e quem me conhece sabe que digo a verdade)
A pergunta que se impõe é: então porque é que continuavas a fumar lá? Resposta: porque podia! Esta parte até pode ser engraçada, mas é também muito verdadeira.

E está cumprida a minha promessa de debitar a minha opinião!

18 comentários:

Joao disse...

Entendi que será proibido fumar sempre que a área for inferior a 100m2. E parabéns pelo mês sem fumar

Afgane disse...

Reconheço que os não fumadores devem ter espaços próprioa para andar sem incomodar os fumadores, reconheço que os não fumadores também morrem só que mais saudáveis do que os que fumam, reconheço que as leis favorecem os que não fumam em detrimento da liberdade dos que fumam que são excumungados da sociedade moderna a tal mais limpa, mais pura e que tem até uns idiotas que correm na Marginal para apanha o ar puro dos escapes. Moral da história: os carros poluem muito mais, são mortais em vários sentidos e nenhuma lei os proíbe de andar nem ninguém abdica do carro. Qual será a próxima moda que os políticos mentecaptos e inúteis vão inventar para nos desviar a atenção da verdadeira poluição? Não acredito em milagres e não vou deixar de fumar onde me apetecer e é tão in infringir a lei em pequenas normas. Que culpa tenho eu se os meus pulmões estã tão poluídos que já não duportem o ar puro? he he he
Beijos

Actriz Principal disse...

JOAO
E está bem entendido. Simplesmente, parece-me que, em alguns sítios, será fácil contornar as medidas do local, pois até isso pode ser relativo.

Ainda assim, o que pretendi aqui deixar foi a opinião que, se for dado o direito de escolha a quem detém a propriedade, ficamos na mesma, pois é economicamente irracional proibir o fumo em determinado espaço, havendo a possibilidade do consumidor ir ao espaço ao lado, em que é permitido.

Actriz Principal disse...

AFGANE
Pois eu também vou começar a minha pequena rebelião, sei lá, o meu pequeno grito do Ipiranga!
Irei:
- comer pastéis de nata onde for permitido apenas beber sumo de laranja (medo!!!);
- pedir um "descafeinado cheio em chávena escaldada se faz favor" de cada vez que me aparecer um funcionário brasileiroque me responda com um "OI?" quando eu tento pedir-lhe um simples café;
- usar bikinis em praias onde é permitido apenas o fato de banho (ui, que radical!)
- andar de patins em linha nas zonas onde se pode andar de bicicleta. E mais, com joelheiras!!!
Eles que se cuidem, ai sim!
Beijos

Marta disse...

Eu acho que a maior dor de cabeça será sem duvida para os proprietários que terão que fazer uma opção ( aqueles que não possam optar pelos 100m2, por uma questão de espaço), mas é bom não esquecer que o numero de não fumadores em Portugal é consederávelmente maior que o de fumadores e isso também deve pesar na decisão deles!

Actriz Principal disse...

MARTA
Independentemente do número de fumadores ser inferior, temo que a coisa não irá mudar. É também uma questão histórica, o normal era poder-se fumar em todo o lado. Quando já não se pode, parece estranho para todos.
Ainda estou para perceber se o ganho em termos de satisfação dos não-fumadores compensa a perda dos fumadores. É que uns estão habituados a levar com o fumo, enquanto que os outros não estão acostumados a não poder dar as suas baforadas...

VF disse...

Minha cara.

Excelente texto.
Passada a fase da evidência, passemos à fase do contraditório.

Sou fumador, e bastante para agravar a situação, mas o curioso é que tento também ser educado, como tal inibo-me de fumar sempre que estou num espaço fechado e em meu redor existem pessoas que se sentem incomodados com o meu fumo.

Ora se todos os fumadores respeitassem a regra da urbanidade, muito provavelmente esta discussão seria desnecessária.

Mas já que falamos de leis, façamos um esforço por pensar na lei como quadro regulador entre direitos de cidadãos. Neste caso e mesmo que partamos do principio que estão em causa situações de saúde, parece-me que impedir um fumador de fumar num determinado local, é claramente desigual.

Tudo isto são argumentos já demasiadas vezes repetidos, e como tal facilmente rebativeis, agora tenho de acrescentar que não confio num estado que legisla condenando uma prática mas não ilegalizando um consumo.

O tabaco não é ilegal, mas fumar é!
Ou será que o tabaco só não é ilegal pelas elevadas quantias que o mesmo transfere para esse mesmo estado através da sua tributação?

Incoerente!

Actriz Principal disse...

VITOR, meu caro

Obrigada pelo elogio.

É lógico que toda esta temática nos pode levar a discussões tremendas sobre o que é, o que pode e como o pode ser, os princípios morais, os direitos, deveres e liberdades, a questão de os fumadores terem acesso aos mesmos cuidados de saúde pagos pelos restantes contribuintes caso tenham doenças relacionadas com o fumo, o papel do Estado, a ironia que é legislar sabendo a contrapartida possível da redução das receitas fiscais (impostos sobre o tabaco)pelo facto de se fumar menos...e muito, muito mais.

Até admito que era coisa para se passar uma noite inteira a discutir à frente de um abatanado, umas águas e um maço inteiro acabo de estrear, mas eu já me deixei disso.

Mas não te esqueças que, mais que tudo, o que eu estou aqui a opinar é sobre uma "falha de mercado" resultante da opção estar nas mãos de quem detém o espaço, cujo resultado será completamente diferente caso o direito de escolha não exista. Peguei apenas numa parte.

Há tanta incoerência, sim! E há coisas em que nem o meio termo faz sentido, não há?

VF disse...

Minha Cara,

Também peguei apenas numa parte, na parte incoerente que é penalizar uma prática mas não condenar o seu consumo.

É como se andar de automovel fosse proibido, mas não fosse proibido possuir automovel!

Também eu já me deixei de certas coisas, porque não faz sentido o meio termo... por exemplo beber café descafeínado com adoçante!

Actriz Principal disse...

VITOR

Repara que, ainda que possa parecer incoerente ser proibido andar de automóvel, mas que não o seja ter:
1- o Estado continuaria a encaixar €:
(i) devido ao imposto automóvel
(ii) imposto na gasolina
(iii) multas para os que fossem apanhados
2- há outras coisas que se podem fazer num automóvel... ouvir música, por exemplo!
3- o status das famílias-bem mantinha-se: imagina ter um belo Maserati ou até um Aston Martin (aleatoriamente... o DB9) na sala a fazer de mobiliário...

Ou seja, podes ter; simplesmente, podes não o usar para o que foi originalmente concebido, para o seu objectivo primário.

Café ou descafeinado é sem adoçante ou sem açúcar. Quer-se a saber a café! E forte, de preferência.

O que vale é que não irás levar esta resposta a sério...

VF disse...

Minha Cara!

Não me levar a sério não pressupôe que não possa levar as respostas de outros a sério!

Mas fiquemos pelo café a saber a café, porque um café a saber a morangos, seria demasiado assustador!

Actriz Principal disse...

VITOR
Até porque já começou a época das cerejas!

VF disse...

Minha cara/

Pena eu gostar de melões, e não gostar por ai além de salada de frutas.
(e esta resposta não me saiu particularmente bem)

Actriz Principal disse...

VITOR
Somos 2 a não gostar de salada de frutas.
(vou abster-me de comentar por aí além...)

É só porque ontem comprei cerejas e foram as primeiras que comi este ano. E são mesmo fixes! Hoje irei lá buscar mais. Depois, queixo-me que estou a ficar gorda...

Fica bem!

VF disse...

Minha Cara.

As cerejas não engordam, o que engorda são os kilos... delas!

Actriz Principal disse...

VITOR
Não estará este espaço a ser utilizado indevidamente? Não é um forum...
Vá lá, fica bem!

João Melo Alvim disse...

Agora sou eu que me atraso e vai ter de ser aos "bochechos". Sinceramente o que me irritou mais nesta lei foi o paternalismo estatal.

Prometendo desenvolver esta ideia, também não te retiro toda a razão no que toca às consequências de uma lei restritiva. No entanto, penso que aqui a tendência é desresponsabilizar as pessoas das suas escolhas, do género "ninguém vai pensar nos que não querem levar com o fumo, mas nós pensamos e baribim barabum ninguém leva com o fumo, só com aquelas excepções, blá blá blá".

E acima de tudo é interferir com a escolha dos proprietários dos espaços. Nota que há lugares onde nem discuto. Por exemplo, por causa das tretas, o meu cigarrinho pré-julgamento já foi à vida. Mas em bares e cafés, principalmente nos primeiros, continuo a achar que o Estado não se deveria sobrepor aos proprietários.

Teresa disse...

Aqui nem comento mesmo. Já está tudo dito e analisado por todos os ângulos.
É mesmo só para te assegurar que li... :)