Faz hoje um ano que tomei a decisão certa. Ou melhor, tomei a decisão.
O ver o futuro como incerto.
A chegar à sexta-feira e pensar: que raio irei fazer o fim-de-semana todo? E nas férias, onde vou, com quem vou?
Afinal de contas, que quero eu da minha vida?
A chegar todos os dias a casa (aquela que ia ser a nossa casa) com a sensação de vazio. A deixar acumular a roupa fora do armário, a louça suja na cozinha, a adiar encontros com os amigos. E passar noites no sofá, a acender um cigarro com a ponta do anterior, a chorar de raiva, de desilusão, de orgulho, mas nunca!, de arrependimento. E começar a perder peso vertiginosamente, tudo tinha um sabor demasiado amargo para que eu conseguisse digerir, era como pedras no estômago. E eu que passei quase três anos a sentir borboletinhas todos os dias!
O medo de saber que me tinha tornado dependente. O descobrir que tudo o que fiz foi por alguém que não merecia. O receio de ficar só para o resto da minha vida.
Tive 1001 oportunidades de voltar atrás. O convite renovou-se. Ele tentou tudo para me provar que, a partir daí, tudo seria um conto de fadas. E manteve-se coerente. E lutou.
Mas foi em vão.
Ainda me deixei arrastar algumas vezes, a ver no que dava. Desta forma, posso dizer que também eu tentei... ver se ainda se conseguia fazer alguma coisa daquele castelo em ruínas.
Ou então, foi o prazer sádico de saber que sou muito mais forte do que ele, e deixá-lo enterrar-se por uns momentos, torná-lo vulnerável e espetar-lhe a faca de seguida.
Sim, eu fui muito sádica. Viste o meu melhor? Agora, apresento-te o meu outro lado. Mas olha, só o faço porque foste tu quem bateu na minha porta, eu não fui ter contigo. Na minha casa, quem dita as regras sou eu!
Não lhe desejo mal. Nem bem. Simplesmente, não me interessa saber. Na altura, só o facto de saber que ele respirava era suficiente para me deixar incomodada.
Descobri que apaguei as memórias, pois o livro que ando a ler retrata Milão, que eu tão bem conheço. Mas já não me lembro de quase nada.
A prova dos nove aproxima-se. Vai ser a primeira vez que lá volto. E só. Andei a adiar, mas quem vou visitar merece. E é já daqui a duas semanas.
E agora, adeus, que tenho uma prima que se vai enforcar este fim-de-semnana! E eu vou assistir de pé. E com a cabeça erguida, a fazer jus ao meu nariz empinado.
Notinha: faz hoje um ano que combinei jantar com ele, pois sentia a minha falta. Eu aceitei, porque iria aproveitar para colocar o ponto final. Como surgiu um convite simpático para o mesmo dia, achei que numa horita conseguiria resolver o assunto. E assim foi. Após o chuto no traseiro, fui curtir para a festa da FHM. No dia seguinte... começou o período negro.